Pesquisar este blog

terça-feira, 24 de maio de 2011

100 anos IEAD. Na periferia, a oração é a arma contra a violência

Terça-feira, 24/05/2011, 08h15

Na periferia, a oração é a arma contra a violência

Mesmo com pouca estrutura,igrejas lutam contra a tensão em bairros carentes usando apenas a fé.
"Essa é a situação da Igreja. É nesse mundo que vamos salvar almas, tirar desse meio violento
de vicios" Antônio Dias, Pastor.

Passam poucos minutos de 12h. Enquanto do lado de fora da pequena construção de madeira o sol castiga forte os apressados transeuntes, dentro do barracão menos de dez pessoas acompanham com as mãos erguidas em direção ao céu as palavras de Irmã Tatiane. E elas vêm trovejantes, sem pausa, intensas, altas. Apelam por salvação, glorificam obras divinas, atestam a fé. Irmã Tatiane foi convidada a pregar às poucas almas cristãs naquele horário que desafia resistências, pelo pastor Antonino Dias, um homem de sorriso aberto e fala simples, com 62 anos e que já foi, segundo o próprio, o terror do Curió-Utinga. Atualmente dedica a maior parte do tempo a resgatar almas, uma missão espinhosa em um local conhecido pela alta incidência de crimes.

“Essa é a situação da igreja. Ela escolhe esses pontos onde há muitos furtos, viciados. É nesse mundo que vamos salvar almas, tirar desse meio violento, de vícios”, diz pastor Antonino. A igreja da Assembleia de Deus guiada por Dias tem uns 25 membros. Quem ajuda nessa missão é o próprio filho, Gleyverton Dias, 29 anos.

Gleyverton cresceu no bairro. Conhece todos, inclusive os traficantes locais. Isso ajuda a tentar convencer jovens a aceitar a palavra bíblica disponibilizada em cultos três a quatro vezes por semana. “Aqui não tem muita opção aos jovens para o estudo ou para emprego. O dever da igreja é alcançar as famílias, muitas destruídas”, diz ele.

O pai de Gleyverton é um exemplo do poder da palavra divina. “Eu fui o terror desse bairro”, repete. “Bebia uma cachaça doida, tinha uma pistola, dei umas terçadadas em algumas pessoas. Eu procurava briga. Fui processado quatro vezes. Eu era um nó e fui lapidado por Deus”, diz. “Na nossa congregação tem jovem que já foi preso e que hoje prega a palavra”, diz o filho. Nos próximos dias, os cultos devem ocorrer na casa da mãe de um assaltante. Uma estratégia para tentar sensibilizar o criminoso, atuando o mais próximo possível dentro do território dele.

FORÇA SOCIAL

O Curió-Utinga é um bairro com uma população estimada em mais de duas mil famílias. Há muitas invasões. Com elas chegam as mazelas sociais. Pobreza, criminalidade, ausência de um quase tudo. “É um bairro muito carente, a bandidagem impera por aqui. Já foi pior, mas quando o Evangelho chegou afugentou muitos deles”, diz o pastor Lauro Pereira Messias, que aos 83 anos já carrega no sobrenome a missão que lhe foi destinada.

Messias atua na congregação da Assembleia de Deus na passagem Elvira, distante muitas quadras de onde pai e filho Dias lutam para romper a barreira que a marginalização impôs ao bairro. São 51 anos de Evangelho. Messias sabe que em bairros marginalizados, o trabalho é dobrado. “Mas é tudo em prol desses jovens”, diz, enquanto lê a Bíblia para algumas crianças.

São desafios que o pastor Geison Oliveira, 29 anos, já se acostumou a enfrentar. Coordena uma congregação da Assembleia de Deus que fica no final da rua Dr. Freitas e início da avenida Perimetral. “Dirijo congregações desde os 18 anos”, diz ele. Já passou por estados como Bahia e Goiás. Superou choques culturais. Dirige a quarta congregação. “Esse bairro tem muitos problemas, mas a nossa atuação tem força social também. A palavra de Deus muda vidas”, diz.

É o que pensa o pastor Marcelo Moraes do Nascimento, 31 anos, cuja igreja, de tamanho minúsculo, mas atuação inversamente proporcional ao tamanho dela, fica encravada no olho do furacão, ou seja, no meio da baixada da Alzira, no coração do tráfico do Curió-Utinga.

O mesmo local onde a igreja foi erigida já foi ponto de vendas de drogas. “Quando estávamos construindo a igreja, tinha gente que se escondia aqui dentro”, diz Nascimento. A igreja tem entre 55 e 60 membros. Fica lotada nos dias de culto. “Nas madrugadas daqui sempre houve muito tiro, mas a própria vizinhança diz que mudou muito essa situação. Diariamente ficamos até quase meia-noite orando. Isso tem ajudado a transformar a vida por aqui”, garante. (Diário do Pará)

Jornal Diário do Pará

IEAD - O Centenário

Nenhum comentário:

Postar um comentário