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quinta-feira, 12 de maio de 2011

Centenário paralelo: uma afronta a Belém



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O que a população e as autoridades de Belém fariam, caso tivéssemos na cidade um Círio paralelo? Se de repente alguns padres do sul do País arrebanhassem meia-dúzia de fiéis e, em plena quadra nazarena, viessem em caravanas à capital paraense organizar outro Círio? Um Círio clandestino e aviltante, que ignorasse as igrejas históricas e ultrajasse as autoridades católicas do Estado do Pará? Algo parecido está sendo cogitado em relação às celebrações do Centenário da Assembleia de Deus.

Já não é novidade para ninguém que a Assembleia de Deus nasceu entre nós. Que foi bem ali, na Siqueira Mendes, que alguns irmãos, reunidos no dia 18 de junho de 1911, organizaram-se sob o primitivo nome “Missão da Fé Apostólica”.

Acontece que, tendo essa igreja crescido de modo fenomenal, e alcançado a partir de Belém todos os cantos da Nação, cresceu também o poder político na ala de suas lideranças. Surgiram alguns caciques, organizados em certas convenções de duvidoso teor cristão. E agora, numa abominável afronta à nossa cidadania civil e religiosa, certos pastores do Sul ameaçam vir em junho para montar uma celebração paralela ao Centenário. Prometem vir à terra da Assembleia de Deus zombar de seus prédios históricos, de seu Museu Nacional, das famílias que descendem direto dos pioneiros e da liderança de nossa igreja. Não obstante a Constituição nos garanta o direito de ir e vir, o que esses homens pretendem fazer é um ato repugnável e de péssimo testemunho para o Evangelho.

Obviamente, você já deve estar querendo saber o porquê desse ato tresloucado. E eu já lhe explico.

Ainda em 1930, a Assembleia de Deus, até esse tempo liderada pelos missionários estrangeiros, viu nascer uma instituição nacional. Viu nascer uma convenção de pastores brasileiros que se diziam deslocados perante a liderança natural dos missionários fundadores. Em Natal, onde se reuniram, eles pleiteavam liberdade. Porém, antes de abrirem a boca para gritar por esse poder, a alma altruísta dos missionários lhes repassou tudo: todas as igrejas estabelecidas, todos os crentes, todo o patrimônio. E, tendo deixado os nacionais com a faca e o queijo na mão, rumaram para terras descobertas do evangelho pentecostal, no sul do País.

E foi ali, no sul do País, depois da morte desses corajosos missionários, que o poder eclesiástico da Assembleia de Deus estendeu seus tentáculos. Aproveitando toda a criação intelectual e espiritual de Belém, esses líderes do Sul montaram editoras e formaram impérios. A partir da humilde tipografia instalada na Travessa Nove de Janeiro, esses burocratas do poder publicaram livros, jornais e revistas de escola bíblica dominical. Estas revistas, por exemplo, criadas em Belém em 1919, têm hoje uma tiragem de quase três milhões de exemplares por trimestre, sem que assista à igreja belenense um único centavo de royalties.

Enquanto isso, Belém, por seu papel de igreja-mãe, conservou-se ao longo do tempo como referência única de Assembleia de Deus, com lideranças importantes e lugar de visitação contínua, nacional e internacional. E isso incomoda, pois, você há de concordar, a vaidade humana não se satisfaz facilmente. A trilogia do diabo é sexo, poder e dinheiro. Se o primeiro é proibido às escâncaras na igreja, e o último não constitui problema para alguns, poder é a ponta do tridente que nunca para de crescer. A iniciativa de vir a Belém do Pará realizar um Centenário paralelo evidencia a fome pelo poder. Precisam dessa vitrine para exibir Brasil afora.

Mas, vir afrontar nossa terra, merece ser repensado. Não esqueçam que somos índios pentecostais.

Fonte: Centenário da Assembleia de Deus
Rui Raiol é escritor (www.ruiraiol.com.br)

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