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domingo, 5 de junho de 2011

Hora de driblar o destino e golear


Demora para que Haroldo Ferreira Nunes, 15 anos, ganhe confiança nas próprias palavras e fale um pouco mais dos sonhos e esperanças que mantém. Eles podem ser resumidos em um objeto redondo, para muitos um passaporte a uma ascensão social, por menor que seja, mas que afaste para sempre o fantasma da pobreza, da fome e das dificuldades cotidianas. Haroldo faz parte da equipe da Tuna Luso que irá disputar em julho um torneio internacional de futebol em Santa Catarina. Quer ser observado por olheiros. Quer mostrar talento. Quer deixar de ser apenas mais um garoto que sonha em ser jogador de futebol. O pai, também Haroldo, quer ir junto, mas não possui os R$ 250 necessários para pagar passagem e se manter por lá nos 15 dias do torneio.

Será a primeira viagem de Haroldo. O adolescente sabe que o torneio será uma vitrine importante. Precisa estar bem preparado. Até aqui, a trajetória tem sido mais de dificuldades do que de grandes vitórias, mas a família persiste no sonho. Põe fé no talento do atleta.

Não tem sido fácil. O pai do jogador é um marceneiro que fabrica banquinhos de madeira. Ganha, quando muito, cerca de R$ 400 por mês. É pouco para sustentar uma família de cinco pessoas. O dinheiro escasseia na mesma proporção em que aumenta a esperança de transformar em realidade o sonho de Haroldo, o filho. Sonho que já se tornou de toda a família.

“Oro muito. Tenho fé e peço a Deus que tudo dê certo”, diz a mãe, Sueli, 51 anos. A família é toda de membros da igreja Assembleia de Deus, cuja congregação fica no mesmo quarteirão da casa onde moram. Haroldo cursa a oitava série e canta no conjunto da igreja. A voz sai rápida, aos tropeções. Com a bola faz bonito. A que tem em casa já está gasta, mas foi presente de um vizinho, trazida de Fortaleza. As chuteiras são ofertas de parentes.

À mãe, que já chorou diversas vezes sozinha, por não ter o que colocar na mesa para que o menino pudesse ir aos treinos bem alimentado, Haroldo prometeu encher carrinhos de supermercados com as coisas mais caras em oferta. Assim como uma nova casa. A atual, numa rua sem asfalto no Park Verde, é simples, de tijolos sem reboco, com cortinas de pano substituindo portas e fotos da família espalhadas por todos os cantos. Como a do casamento de Haroldo pai com Sueli, 16 anos atrás.

Haroldo pai traz uma história de dificuldades na pele curtida. Há mais de dez anos perdeu mulher e filho num acidente de carro na rodovia Augusto Montenegro. Casou de novo. O filho do primeiro casamento, Lucivaldo, também ajuda. “Teve um dia em que chorei. Era meio-dia e ainda não havia conseguido nada para o almoço. Nem dinheiro do transporte. Ia levar o Haroldinho de bicicleta, mas o pneu furou. A gente ia a pé, quando o Lucivaldo apareceu e deu o dinheiro do ônibus”, conta o pai.

Fonte: Diário do Pará
IEAD - O Centenário

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